Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Anime: A Voz do Silêncio

 

A Voz do Silêncio: Koe no Katachi conta a história de Shoya Ishida, um ex-bully, e Shoko Nishimiya, uma menina com um tipo de deficiência auditiva. A história começa quando os dois estão na sexta série e Nishimiya chega em uma nova escola. No começo, as crianças ficam curiosas e com receio em se comunicar através de um caderno com a nova colega, mas pouco a pouco começam a ver a diferença como uma desculpa para maltratar e isolar a jovem. Ishida lidera as maiores crueldades junto dos colegas, mas, após a saída da menina, se vê colocado na posição de vítima, até por aqueles que o apoiavam, a partir disso ele começa a se arrepender de verdade do que fez, e notar o que ela passou.

Enquanto cresce o rapaz se dá conta de quão errado era o que fazia e trabalha a redenção consigo mesmo e sua mãe, ao reencontrar a garota, tenta se redimir de suas ações passadas e reunir o antigo grupo do fundamental.

Após anos nessa situação, Ishida se torna um adolescente totalmente isolado e fechado, questionando se alguém como ele realmente merecia uma segunda chance. A partir do reencontro dos dois, Ishida e Nishimiya vão tentar se curar dos traumas do passado. É uma obra emocionante sobre amizade e empatia, e dá visibilidade também á pessoas com deficiências auditivas e a importância da língua de sinais na comunicação, além de retratar de forma bastante sensível a depressão na adolescência e as consequências do bullying, para quem sofre e para quem pratica.

Em minha opinião esse filme é incrível em vários aspectos, além do filme ser bem pé no chão, por ser algo que pode vir acontecer com alguém, o arrependimento do protagonista é nítido e convincente, você consegue sentir empatia por ele mesmo o odiando no começo. Outro aspecto é a trilha sonora, que é vazia e fria, pra muitos pode ser algo ruim, mas acredito que o diretor optou assim, para nós entendermos melhor o protagonista e imergir mais no mundo dele, que era vazio e frio, sem som. Os personagens também são muitos carismáticos dando ainda mais vida para a obra.

 E preparem os lenços pois sair desse filme sem chorar você não vai!


Koe no Katachi é um filme japonês animado e produzido pela Kyoto Animation, sendo dirigido por Naoko Yamada e escrito por Reiko Yoshida

 
Da esquerda para direita: Miyoko Sahara, Shōko Nishimiya, Yuzuru Nishimiya, Tomohiro Nagatsuka, Shōya Ishida, Naoka Ueno, Miki Kawai e Satoshi Mashiba

Bullying e redenção

Além de mostrar o lado da vítima, o filme também mostra o de seu agressor. O jovem Ishida é o protagonista da narrativa e acompanhamos a sua mudança de comportamento e posicionamento: quando criança, até pela falta de visibilidade e de debate sobre o assunto, não entendia a gravidade de suas ações, mas buscou mudar assim que entendeu seu erro.

Não é tratado como uma tentativa de romantizar o agressor e a agressão, mas de provar que pessoas podem se redimir e adquirirem comportamentos e atitudes adequadas após cometerem um erro. Este, afinal, é o verdadeiro significado de crescer e evoluir.

Mesmo antes de se reencontrar com sua antiga vítima, Ishida já trabalha a redenção consigo mesmo e com sua mãe, que também sofreu por suas ações passadas. Ele carrega o peso da culpa como uma cruz, questionando-se até mesmo sobre a validade de sua existência, mas logo se agarra a oportunidade de se redimir por suas ações e encontrar não só o perdão, mas a felicidade. A participação de outros personagens será importante nesse arco.

Por mais que essa inicialmente seja uma história sobre bullying, é também sobre empatia e sobre como todos nós podemos aprender a ouvir e entender o outro, apesar das diferenças.

 

Para se comunicar com os demais, Nishimiya sempre carrega um caderno consigo, onde escreve o que deseja falar e espera que as pessoas escrevam de volta quando quiserem conversar com ela. O método é uma substituição da Língua Japonesa de Sinais, ainda pouco difundida e, como mostrado no filme, tida com muita recusa pelas demais crianças, outro aspecto importante do filme é quanto a oralidade: por muito tempo foi usado o termo “surdo-mudo”, mas este é incorreto, pois a deficiência auditiva não está relacionada com a fala: a própria personagem do filme consegue falar, sendo uma surda oralizada. Entretanto, devido ao preconceito das pessoas, por se tratar de uma voz que soa pouco natural aos ouvintes, prefere escondê-la.

Essa, infelizmente, é a realidade de muitos surdos, ainda vítimas de grande preconceito e exclusão. Neste sentido, Koe no Katachi mostra a importância da comunidade ouvinte conhecer a  Língua de Sinais – no Brasil, a nossa é a LIBRAS – para garantir a inclusão dos surdos na sociedade.

No Brasil, o filme pode ser assistido pela Netflix

 









2 comentários: